sábado, 11 de fevereiro de 2012

Tolerância: um exercício necessário


Vivendo em época de individualismos cada vez mais acirrados faz-se necessário observar em nosso dia a dia um esforço de convivência com uma enorme diversidade de opiniões, atitudes, formas de expressão, etc. Diante deste quadro torna-se imprescindível um esforço por algo sem o qual a vida em sociedade torna-se adversa ou insuportável: a tolerância.
Verificando o sentido etimológico do termo Tolerância” constatamos que este provém do latim tolerantia que por sua vez vem de tolero, tolerare.
Tolero, tolerare significa “suportar”, “sofrer”, “manter”, “persistir”, “resistir” e “combater”. Tolerantia “corresponde à capacidade de persistir nas nossas opiniões, na vontade suportando a diversidade”.
Verifica-se portanto pela origem da palavra que esta originalmente teve um sentido negativo consistindo na atitude de suportar algo que se considerasse errado ou uma conduta desagradável.
Numa definição mais atual temos definições de alguns pesadores mais contemporâneos:
- David Heyds, na “Introduction” a Toleration – An Elusive Virtue(1996), considera que a “tolerância” é “uma virtude perceptual porque faz um compreender o outro”; 
- John Horton, em “Toleration as a virtue” (1996) diz que “a tolerância pressupõe uma atividade intelectual deliberada” 
- Fernando Savater, por sua vez, “ À quel engagement conduit la tolérance?”, em La tolérance, l’indifferance, l’intolérable (2001), considera que “a tolerância é uma norma para viver em democracia”.
- Françoise Héritier, em O Eu, o outro e a tolerância (1997), realça que a “tolerância” é mediadora essencial entre o eu e o outro; 
- Julie Saada-Gendron, em La Tolérance (1999), cuja opinião assenta sobre uma concepção de idéia de homem, isto é, “tolerância” implica o respeito pelo outro e não a aceitação das suas opiniões. 
Dentre toda esta diversidade de conceituação temos como essência a imprescindibilidade da "tolerância" ao reconhecermos que não somos proprietários de verdades absolutas e portanto temos de conviver com diferentes formas de ver o mundo.
Religiosidade, espiritualidade, ideologia política e até mesmo paixões esportivas devem ser vistas como em enorme caleidoscópio onde torna-se impossível definirmos linhas perfeitas ou formações perfeitamente sólidas. Nada do que somos ou fazemos nos garante direito a julgamentos precipitados ou atitudes de ódio ou intolerância.
Urge portanto contrapormos todas as formas de absolutismos e colocarmos em nossa vivência esta maravilhosa mezinha contra nossa errônea vontade de nos colocarmos como donos da verdade e imperadores do bom senso.
O torcedor do time adversário, o adepto de outra tendência religiosa e o cidadão de convicções ideológicas opostas as nossas devem ser encarrados na amplitude de um macrocosmo que nos coloca juntos ou diversos a cada passo que damos.
Vivamos portanto no constante exercício desta formidável e atualíssima formula de felicidade: a tolerância.