Um
veículo Ford Cinza estaciona lentamente ao lado do frondoso pé de aroeira
periquita, vidros escuros, lataria malcuidada com amassados e sujeiras bem
presentes. Saem uma mulher de longos cabelos negros e vestes puídas.
Segue
uma criança sonolenta. Sua roupa esta toda embarreada e carrega em uma das mãos
uma sacola, bem cheia, com frutas. Bananas. A sacola esta rasgando em alguns
pontos e a senhora adverte bruscamente:
- Põem a mão por baixo
que senão vai espalhar tudo pelo chão!
O motorista desembarca
demonstrando tensão. Abre o porta-malas traseiro e alcança mais algumas sacolas
lotadas com pencas e pencas do produto. Um cacho em fase de maturação vai ao
ombro. No momento em que busca mais alguma coisa, no escuro, tateando o
porta-malas mal iluminado, todos param.
Agentes armados saem de
vários locais, os três cercados e recebendo voz de prisão.
Chega uma viatura e
estaciona ao lado do local onde a família apavorada rende-se ao cerco brutal e
intransponível. Descem da viatura. Mais agentes.
As sacolas são
confiscadas e os adultos algemados.
-Pegamos um belo
carregamento do produto.
-Meu pai... São
agricultores moço, eu não sou traficante, nunca nem fumei, não sei nada dessas
modas novas, não me prende não, minha família...
O homem detido, ainda
mais apavorado, mas, tentando mostrar algum controle para segurar o choro da
mulher e do filho, tenta argumentos.
-Nem me vem com
frescura, vocês conhecem a lei, cultivo transporte e processamento estão
proibidos. O uso tradicional na alimentação esta suspenso há dez anos. Malditos
traficantes. A descoberta desta tal de “bananadina” por parte de crápulas como
vocês... Nem vou argumentar com vagabundo.
A truculência do chefe
da equipe demonstrada com gestos bruscos, empurrões; não falava, gritava:
-Chamem o Conselho
Tutelar para levar o garoto. Quero dar uma trabalhada nestes dois.
O choro aumenta. O
semblante do algemado passa a demonstrar sentimentos com raiva e desprezo.
-Por que os seus homens
não param de devorar o produto e meus filhos não podem, seus cachorr... Um
violento chute interrompe o discurso.
Saraivada de murros e
chutes.
A criança desmaia e
bate a cabeça na calçada. Ninguém liga. Nem mesmo a mãe, que, quase em estado
de choque, grita ofensas e urra desesperada.
O produto já esta quase
todo “destruído” pelos agentes. O comandante limpa o sangue das mãos, pega uma
penca bem madurinha e adverte sua equipe:
-Guardem bem as cascas.
Não podemos perder os indícios.
O homem e a mulher são
recolhidos na viatura. Ela também apanhou bastante.
-E a criança?
-O Conselho Tutelar foi
avisado. Deixa aí mesmo e eles que venham recolher.
-Meu turno esta
terminando e eu quero passar a noite de Natal com minha família. Se não fosse
de ultima hora esta apreensão teríamos torta de bananas.
Gargalhadas gerais e
todos embarcam nas viaturas.
A criança, ainda
desacordada, segue jogada na calçada. Na cabeça marcas rubras.
O rubro se espalha.
25-12-2198
Esta
tudo consumado!
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