Escola rural,
duas séries para cada professora e as próprias e os alunos cuidando da merenda
e da limpeza.
Ajudei a
carregar muito balde de agua tirando de forma manual do poço, eu era o
preferido, pois não deixava o balde cair e ficar dentro do poço. Também tinha
uma turma para passar cera e lustrar a sala. A lustragem acabava virando uma
seção de deslizamento e a professora tinha de intervir. Essa faxina geralmente
acontecia nas ultimas horas de aula da sexta-feira.
Quanta a merenda
todo dia dois alunos ou alunas dentre os maiores, da terceira ou quarta series,
eram designados para cuidar desta parte. A “matéria” que não acompanhavam
naquele dia tinha de copiar de um colega depois do recreio.
Ao passarmos
para a terceira serie escapávamos dos puxões de orelha e das reguadas nas mãos
com que a Irmã Demétria nos brindava em acompanhamento à descoberta dos primeiros
signos linguísticos. Castigos físicos já eram proibidos naqueles idos da década
de 80, mas, quem teria coragem de denunciar uma religiosa com quarenta anos de
magistério?
Na terceira
serie escapávamos à batina, aos safanões e as admoestações em ucraniano. Não
deixou, porém de haver acontecimentos peculiares.
Acontece que,
afora a cartilha de leitura obrigatória durante o ano, em acompanhamento as
aulas, havíamos conhecido pouquíssimas leituras alternativas. Leitura livre,
sem rédeas nem obrigações, que é o melhor que pode-se encontrar num espécime
literário.
Chega-nos então
um dia, ou melhor, chega até a escola, até a um canto de nossa sala de aula,
mas não chega até nós, uma enorme caixa contendo uma centena de volumes
coloridos, brilhantes, cheios de gravuras e de letras. Vão para o canto e ali
ficam. Belos e intocáveis.
Ante nosso
questionamento a jovem professora, esta não me recordo o nome, nos responde que
não poderia nos liberar os livros sob pena de que poderíamos estraga-los.
Com muitas
suplicas libera para um horário de leitura, mediante severa vigilância. Como,
porém, sob esta docente não precisávamos temer o poder coercitivo da violência
persistimos em suplicas para que nos emprestasse um volume por vez para lemos
em casa.
Conseguimos
também. Mediante assinatura e comprometimento de reembolso em caso de qualquer
rasura ou estrago.
Lembro, daquela
época, da leitura de Ziraldo, “menino maluquinho”, “o bicho da maça”.
Foi no ano de
1988, na Escola Municipal de Ensino Rural Ponte Alta, município de Prudentópolis,
Paraná.
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